O
texto que analisei e que serviu como base para esta resenha foi o texto “Opinião pública/opinião publicada”,
inserido no capítulo “Apocalipse” do
livro “Saturação”, escrito por Michel
Maffesoli e publicado em 2010, pelo Itaú Cultural.
Qual
a diferença entre opinião pública e opinião publicada? Qual das duas é
realmente essêncial à sobrevivência e renovação da sociedade? Estas são
perguntas levantadas e refletidas ao ler o texto do sociólogo francês Michel
Maffesoli. O autor discorre seu texto em uma reflexão sobre as bases sólidas,
já existentes e inseridas na sociedade, e as inovações que surgem sempre a cada
novo ciclo. O texto é interessante, instigador e viciante porém de complexa
compreensão. Traz muitas referências filosóficas e é útil a quem se interessa
nas construções simbólicas das relações da nossa sociedade. Em relação ao
autor, Maffesoli é um sociólogo que pauta seus estudos e desenvolvimento
acadêmico no campo do imaginário das sociedades pós-modernas. Neste texto fica
evidente tal afirmação. Farei então um pequeno texto onde trarei as principais
ideias do autor (as que me marcaram na leitura) e também algumas contribuições
próprias oriundas de todas as minhas construções (até o momento).
Em
momentos de crise e incertezas sempre há a tendência de surgir o novo, o que
ainda não está revelado. Afinal, uma ideia pode estar inserida em um
determinado grupo e ser revelada à todos somente no momento ideal, momento este
que a “traz à luz”, tirando-a do período gestacional. Estas ideias muitas vezes
são podadas pela sociedade, por seus vícios e conceitos pré estabelecidos. Os
que sedem à estes estão inseridos em um processo de conformismo lógico, que
limita a cadeia de novos pensamentos, estagnando os seres à padronização
lógica. Este problema se enraíza na sociedade e é legitimado, por ter a
“fórmula do sucesso”, ao mesmo tempo que condena tantas outras que obtem frutos
interessantes ao desenvolvimento sócio intelectual. Este mesmo é, em sua grande
maioria, mais aceitável pelas camadas sociais por ser de mais simples
compreensão e por não desestruturar as correntes ideológicas já estabelecidas.
É também o grande motivo da falta de democratização do conhecimento e das
informações pois, ao legitimar alguns pontos embrionários de conhecimento e
discriminar outros, inserimos-nos em uma lógica que perpassa as barreiras
sociais, ou cognitivas, caindo nos perigosos campos dos determinismos
geográficos e biológicos.
A
opinião publicada impõe o silêncio e poda as ramificações transgressoras em um
processo de padronização sócio-cultural. O comum uso de palavras com seu
significado “camuflado” em interesses aos defensores desta forma de opinião, fundamenta
o vínculo social em “um retorno original através do original” (MAFFESOLI.
p.20). É como este mesmo autor chama de retorno aos fundamentos. “Em certos
momentos, uma sociedade não tem mais consciência daquilo que a mantém unida e,
a partir daí, ela não tem mais confiança nos valores que garantiram a solidez
do vínculo social” (p.21).
São
em períodos de crise, períodos de mudanças que temos as novidades essênciais que
nos dão um novo fôlego no difícil ato de respirar/aspirar inovações (as
inspirações hoje são inibidas pela poluição dos ares, tanto no cambo simbólico
quanto físico). As novidades antes interessantes e vivas com o tempo
enrijecem-se em instituição. Entramos assim em uma “época à espera de seu
próprio apocalipse” (p.22), que o autor define como aquilo que revela as
coisas, que traz o novo. Este apocalipse traz “nova força e vigor às
instituições enlanguescidas” (p.22). O pensamento apocalípitico “é revelador
daquilo que está ali, mas que se tinha tendência a esquecer” (p.23). Estas
novas ideias são necessárias para a renovação da sociedade pois as vezes é
necessário “ver bem para trás, para poder ver muito à frente” (p.23). A
renovação está inserida nas mentes, no nosso imaginário, nos campos férteis do
pensamento. Este termo tão usado com diversos sentidos na contemporaneidade, hoje
há imaginário de tudo. Não há como negar a importância do imaterial nos
diversos campos e nem do cultural. Sabemos que todas as nossas relações, nossas
construções de comunicação ou informação e conhecimento, são feitas no cambo
simbólico.
Sendo
assim, mesmo quando o pensamento pode lhes parecer transgressor, deve ser
levado à frente e falado, divulgado, debatido, construído com os dos demais.
Este jogo político é o que nos interessa pois é através dele que renovamos,
inovamos, criamos e mudamos nossas condições. Ele pode estar além da
temporalidade, pode ser algo inovador que promoverá mudanças significativas.
Não nos deixemos ser enraizados pelos padrões atuais e engessados pelos moldes
de sucesso estabelecidos até o momento.
Referências:
MAFFESOLI, M. Apocalipse: Opinião
pública / opinião publicada. In: Saturação. São Paulo: Illuminuras: Itaú
Cultural, 2010.