segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O que seria do mundo sem uma espécie chamada homo sapiens?


"Em O Mundo sem Nós, de Alan Weisman, futuro é vislumbrado sem o menor sinal de seres humanos"

Neste livro, O Mundo Sem Nós, não sobra ninguém para contar a história. Nem precisava, pois, não sendo obra de ficção, prescinde de um narrador tradicional. Quem monopoliza a narrativa é Alan Weisman, premiado jornalista americano empenhado em demonstrar, com a ajuda de um esquadrão de cientistas, que a Terra não só não precisa da gente para continuar seu curso vital como deverá melhorar muito sem a nossa, habitualmente nefasta, presença.

Audaciosa e caleidoscópica aventura intelectual, com alternadas viagens ao futuro e ao passado, achegas científicas, e digressões filosóficas e políticas, O Mundo Sem Nós não se compraz em sermões e clichês ambientalistas. Weisman escreve como se fosse um observador curioso e compassivo de outro planeta, abordando o que a Terra já foi, o que virou, e o que a espera a curto, médio e longo prazo. Seu modus operandi, por assim dizer, tem menos vínculos com sisudos estudos acadêmicos do que com Um Conto de Natal, de Charles Dickens, e A Felicidade Não se Compra (It''''s a Wonderful Life), de Frank Capra. Resta saber se o homem afinal verá a luz, como o usurário Scrooge, depois de alertado por Marley e três fantasmas, e George Bailey, o suicida de Capra, depois de convencido (e guiado passado adentro) pelo angelical Clarence.

Para responder à pergunta sobre o que aconteceria com a Terra se nós deixássemos de existir, Weisman cumpriu um longo tour por lugares tão díspares como a reserva florestal de Bialowieza Puszcza, na Polônia, as antigas cidades subterrâneas da Capadócia (Turquia), a zona desmilitarizada entre as duas Coréias (um santuário de vida selvagem), os poços de petróleo de Houston (Texas), os túneis do metrô de Manhattan, os hotéis abandonados de Chipre, o Canal do Panamá, etc. Em todos eles recolheu histórias e fez constatação aterradoras.

Por exemplo: se não houvesse absolutamente ninguém para cuidar dos poços e das refinarias de petróleo, eles explodiriam, e suas piras inextinguíveis provocariam um inverno químico, liberando gases que contaminariam o mundo inteiro. Um dia, o flagelo chegaria ao fim: os metais pesados acabariam no fundo dos oceanos, enterrados por conchas e pedras calcárias. Tudo isso sem a ajuda do homem, que, vale lembrar, há muito estaria extinto.

Por que e como o homem surgiu?, pergunta-se Weisman. Era inevitável que isso acontecesse? E se desaparecêssemos, que chances teríamos de reaparecer? Resposta cautelosa: tudo depende do degelo. Foi a Idade do Gelo que levou certos macacos a trocar a floresta pelas savanas, onde, eventualmente, tornaram-se hominídeos. Inevitável, portanto, não foi. Nem se repetiu o fenômeno. Se nós sumirmos, quem dará o próximo passo evolutivo? Os babuínos? Ajudados por uma nova era do gelo?

Sem o homem, o supremo predador, a fauna e a flora floresceriam, recuperando um espaço e uma biodiversidade há séculos violentados, sobretudo, pela ganância. O que das ruínas sobrasse (a água, o mofo, os fungos, as bactérias e outros elementos destruiriam praticamente tudo, só protelando o fim do ferro fundido: longa vida aos hidrantes!), seria coberto por vegetação resistente, tal como vimos no filme Fuga no Século 23 (Logan''''s Run). Nosso planeta reverteria aos idos edênicos. Sem Adão, nem Eva.

Não ficaria ao deus-dará, mas à natureza-dará. Sapos e demais batráquios procriariam nos rios metropolitanos. Ursos, lobos e coiotes andariam livremente pelas antigas urbes. Assim com os símios, que, mesmo beneficiados por um upgrande mental, talvez não dessem bola para os best sellers protagonizados por animais, se é que algum artefato de papel conseguirá sobreviver aos desgastes do tempo e da poluição, e à falta dos cuidados de conservação que só o homem lhe podia dar.

Nenhum animal tentou mudar mais o mundo que o homem. De preferência, aniquilando outras espécies. O paleoecologista Paul Martin revelou a Weisman que os humanos vindos da África e da Ásia exterminaram três quatros da megafauna pleistocênica do continente norte-americano, que era muito mais rica que a da África. Havia por lá animais descomunais, como tamanduás e ursos gigantes, leões maiores e mais velozes que os africanos, afora os mamutes. Nenhum deles podia suspeitar que aquele minúsculo animal bípede lhe oferecesse perigo.

Na África, ao contrário do Novo Mundo, a megafauna só sobreviveu por ter crescido junto com os humanos - e aprendido a temê-los. Se o homem desaparecesse da África, e, com ele, a caça, a pecuária e a agricultura, a população dos grandes mamíferos aumentaria tremendamente. Os elefantes, cuja quantidade o comércio de marfim reduziu de 10 milhões para meio milhão, recuperaria a prole perdida, a despeito da falta de alimentos para tantas trombas. Aí entraria em cena a seleção natural, não a carabina e o trator do homem.

Alarmista, mas não de todo pessimista, Weisman arrisca alguns conselhos para que o mundo continue usufruindo da nossa presença. Tolerância zero com o descarte de plásticos, o veneno número um do biossistema (há seis vezes mais polímeros sintéticos do que plâncton nos oceanos). Redução drástica do índice demográfico: se, de hoje em diante, cada casal só tivesse um filho, em 2100 a população mundial poderia voltar aos 1.6 bilhões de habitantes do século 19. Malthus escreveu certo por linhas tortas: há gente demais, sugando e sujando a Terra. Destruí-la, assegura Weisman, não conseguirão. A natureza agüenta todas as nossas agressões. Nós, não.

obs: Estou com este livro por empréstimo mas, eu o comprei e chegará em breve. Quem o quiser emprestado eh só falar.. amigos eh claro :D
abraço

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