sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Brasil terra da injustiça - Deserdados


Em 1915, havia quase 7.000 Nambiquara no oeste brasileiro, mas em 1975 somente 530 sobreviviam. Essa trágica perda – mais de 90% da população em 60 anos – não ocorreu devido a nenhum desastre natural, mas através de projetos governamentais, apoiados pelo Banco Mundial e facilitados pela FUNAI.



Em 1960, o vale de terra fértil dos Nambiquara foi cortado por uma rodovia. Mesmo estando ciente de que a terra pertencia aos Nambiquara, a FUNAI emitiu certidões negativas, negando haver índios naquela área. Muitos Nambiquara morreram, devido ao súbito contato e exposição à doenças e enfermidades tais como gripe e sarampo. A terra dos Nambiquara foi separada por outras estradas. Boa parte do vale fértil foi invadida por grandes companhias e mantido exclusivamente para pastagens. Os remanescentes Nambiquara foram removidos à força para uma reserva estéril.



Essa reserva tinha dimensões reduzidas, e era completamente inadequada. Assim aqueles Nambiquara que puderam, caminharam 300 km de volta às suas terras. Um funcionário da FUNAI que testemunhou a catástrofe, demitiu-se em protesto. 'Assim que eles chegaram na reserva, foram abalados por uma epidemia de malária e gripe, devido às condições insalúbres da área. Eles perceberam que não teriam como sobreviver, e totalmente abandonados, procuram voltar para sua terra. Quase 30% da tribo morreu tentando retornar. Foi uma marcha trágica, tendo os índios sucumbido pelo caminho.'

Milhares morreram nesta viagem terrível – um grupo de 400 Nambiquara perdeu todas as crianças menores de 15 anos devido a doenças e fome. Os sobreviventes permaneceram na área Sararé por anos, deslocados e sem lar. Uma operação de resgate foi realizada, e grupos de Nambiquara desapossados e famintos foram removidos de avião. Uma equipe da Cruz Vermelha Internacional que visitou o grupo em 1970 concluiu que 'a condição dos índios não é uma vergonha somente para o Brasil, mas também para a humanidade.'

Hoje os Nambiquara são ameaçados por madeireiros e outros colonos, que estão desmatando a floresta e caçando os animais que os Nambiquara necessitam para a sua sobrevivência. Vários Nambiquara são da opinião que eles tem que se defender sozinhos. José, um Nambiquara explicou para a Survival: 'Os brancos ainda querem roubar o que temos, mas nós estamos protegendo nossa terra. Em 1991, fizemos uma barreira para os brancos verem o limite e respeitá-lo. Manu quase morreu com um tiro que rompeu a sua cabeça. Sempre andamos armados. A gente avisa: "Se vocês atirarem, nós atiramos também." Mas eu nunca matei nenhum branco.'

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