segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Resenha sobre o texto Opinião pública/opinião publicada



O texto que analisei e que serviu como base para esta resenha foi o texto “Opinião pública/opinião publicada”, inserido no capítulo “Apocalipse” do livro “Saturação”, escrito por Michel Maffesoli e publicado em 2010, pelo Itaú Cultural.

Qual a diferença entre opinião pública e opinião publicada? Qual das duas é realmente essêncial à sobrevivência e renovação da sociedade? Estas são perguntas levantadas e refletidas ao ler o texto do sociólogo francês Michel Maffesoli. O autor discorre seu texto em uma reflexão sobre as bases sólidas, já existentes e inseridas na sociedade, e as inovações que surgem sempre a cada novo ciclo. O texto é interessante, instigador e viciante porém de complexa compreensão. Traz muitas referências filosóficas e é útil a quem se interessa nas construções simbólicas das relações da nossa sociedade. Em relação ao autor, Maffesoli é um sociólogo que pauta seus estudos e desenvolvimento acadêmico no campo do imaginário das sociedades pós-modernas. Neste texto fica evidente tal afirmação. Farei então um pequeno texto onde trarei as principais ideias do autor (as que me marcaram na leitura) e também algumas contribuições próprias oriundas de todas as minhas construções (até o momento).

Em momentos de crise e incertezas sempre há a tendência de surgir o novo, o que ainda não está revelado. Afinal, uma ideia pode estar inserida em um determinado grupo e ser revelada à todos somente no momento ideal, momento este que a “traz à luz”, tirando-a do período gestacional. Estas ideias muitas vezes são podadas pela sociedade, por seus vícios e conceitos pré estabelecidos. Os que sedem à estes estão inseridos em um processo de conformismo lógico, que limita a cadeia de novos pensamentos, estagnando os seres à padronização lógica. Este problema se enraíza na sociedade e é legitimado, por ter a “fórmula do sucesso”, ao mesmo tempo que condena tantas outras que obtem frutos interessantes ao desenvolvimento sócio intelectual. Este mesmo é, em sua grande maioria, mais aceitável pelas camadas sociais por ser de mais simples compreensão e por não desestruturar as correntes ideológicas já estabelecidas. É também o grande motivo da falta de democratização do conhecimento e das informações pois, ao legitimar alguns pontos embrionários de conhecimento e discriminar outros, inserimos-nos em uma lógica que perpassa as barreiras sociais, ou cognitivas, caindo nos perigosos campos dos determinismos geográficos e biológicos.

A opinião publicada impõe o silêncio e poda as ramificações transgressoras em um processo de padronização sócio-cultural. O comum uso de palavras com seu significado “camuflado” em interesses aos defensores desta forma de opinião, fundamenta o vínculo social em “um retorno original através do original” (MAFFESOLI. p.20). É como este mesmo autor chama de retorno aos fundamentos. “Em certos momentos, uma sociedade não tem mais consciência daquilo que a mantém unida e, a partir daí, ela não tem mais confiança nos valores que garantiram a solidez do vínculo social” (p.21).

São em períodos de crise, períodos de mudanças que temos as novidades essênciais que nos dão um novo fôlego no difícil ato de respirar/aspirar inovações (as inspirações hoje são inibidas pela poluição dos ares, tanto no cambo simbólico quanto físico). As novidades antes interessantes e vivas com o tempo enrijecem-se em instituição. Entramos assim em uma “época à espera de seu próprio apocalipse” (p.22), que o autor define como aquilo que revela as coisas, que traz o novo. Este apocalipse traz “nova força e vigor às instituições enlanguescidas” (p.22). O pensamento apocalípitico “é revelador daquilo que está ali, mas que se tinha tendência a esquecer” (p.23). Estas novas ideias são necessárias para a renovação da sociedade pois as vezes é necessário “ver bem para trás, para poder ver muito à frente” (p.23). A renovação está inserida nas mentes, no nosso imaginário, nos campos férteis do pensamento. Este termo tão usado com diversos sentidos na contemporaneidade, hoje há imaginário de tudo. Não há como negar a importância do imaterial nos diversos campos e nem do cultural. Sabemos que todas as nossas relações, nossas construções de comunicação ou informação e conhecimento, são feitas no cambo simbólico.

Sendo assim, mesmo quando o pensamento pode lhes parecer transgressor, deve ser levado à frente e falado, divulgado, debatido, construído com os dos demais. Este jogo político é o que nos interessa pois é através dele que renovamos, inovamos, criamos e mudamos nossas condições. Ele pode estar além da temporalidade, pode ser algo inovador que promoverá mudanças significativas. Não nos deixemos ser enraizados pelos padrões atuais e engessados pelos moldes de sucesso estabelecidos até o momento.



Referências:

MAFFESOLI, M. Apocalipse: Opinião pública / opinião publicada. In: Saturação. São Paulo: Illuminuras: Itaú Cultural, 2010.

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