segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Qual o futuro de Gotham City?









Este ensaio foi realizado sob análise de quatro publicações feitas em jornais, sendo duas feitas pelo ensaísta Antonio Risério e as outras duas pelo jornalista Emiliano José. As publicações foram feitas em respostas umas as outras, com apelo central ao leitor “político” soteropolitano, tendo como base o cenário da última disputa eleitoral pela prefeitura da cidade: travada entre os candidatos Nelson Pelegrino do PT e ACM. Neto do DEM. Com esta mudança na prefeitura, qual será o futuro de Gotham City²?
Nas últimas eleições vimos em Salvador uma disputa eleitoral muito diferente das que ocorreram nos últimos anos. A prefeitura em situação de embate, afinal Salvador terá ou não solução? O cenário apresentava uma população preocupada com o “chaos” que tomou conta da cidade nos últimos dois mandatos do ex-prefeito João Henrique. Lixo nas ruas, violência excessiva, transito caótico etc. Dentro deste contexto ambos os candidatos venderam suas imagens à população: Um se apresentou como um bonequinho benfeitor, que faria tudo que os chefes mandassem, teria maior facilidade na obtenção de verbas e obras para a cidade, em um projeto de continuação das políticas sociais que foram feitas pelo governo federal “Petista” nos últimos anos. Durante os debates falava sempre pelos outros, não mostrou firmeza nas disputas dentro do “quintal inimigo” (grande mídia); O outro apareceu como a solução ideal para a cidade. “Cabra” novo, cheio de gás, de família, religioso, defensor do grande bem que resta à sociedade brasileira – o moralismo militar. Este senhorzinho se mostrou como um novo coronel, um coronelzinho descolado que curte carnaval e festas e que prometia ter se livrado do ranço ditatorial que a sua imagem carrega – o seu avô Antônio Carlos Magalhães.
Pelo que vi nas quatro publicações feitas nos jornais, o Antonio Risério defende este neo-carlismo como a solução ideal à Gotham City. Ele vê em Pelegrino um sujeito “mentalmente limitado, incapaz até de vôos rasteiros” (RISÉRIO, 2012). Já o Neto ele vê um ser diferente e inovador, que trará a cidade de Salvador de 


volta aos tempos modernos, tempos em que a cidade se destacava na política nacional. Já o Emiliano José, petista fervoroso e assumido, vê o Pelegrino como um cidadão que trabalhou muito pelo povo soteropolitano e como o cidadão ideal para por a cidade nos trilhos. A questão central do debate entre ambos foi a falta ou não de projetos políticos pelos partidos dos candidatos. Enquanto o petista defendia que o PT vem desenvolvendo um projeto a longo prazo, que vem mudando o cenário social nacional, o Carlista defendia que o Partido dos Trabalhadores não tem projeto, e que veio governando o país nos últimos anos, meio que no acaso – “Até o projeto nacional de Lula foi construído, em grande medida, contra a falta de senso, de realidade, contra a falta de projeto do próprio PT” (RISÉRIO, 2012). E neste embate, ambos se perderam em suas publicações, começando a atacar os artifícios utilizados por cada um em seus textos – como as citações de poetas e cantores. Gostei muito de ambos os textos, apesar de não concordar com todas as idéias, tanto que resolvi fazer uma análise com base na letra da música “Gotham City” do grupo Camisa de Vênus.
Para começo das “lorotas”, não vejo em nenhum dos candidatos, ou em seus projetos políticos (ou falta destes), solução para a situação em que a nossa cidade se encontra. Salvador precisa de um projeto que pense mais no lado social do que apenas no lado turístico da cidade. Não adianta projetos mirabolantes que visam maquiar a cidade para os turistas e/ou para os eventos internacionais, sem resolver as raízes do problema - falta de: educação de qualidade, investimento na cultura popular, planejamento imobiliário e reversão das políticas pró-desenvolvimentistas. Para esta última, sugiro ao leitor que reflita nas seguintes perguntas: Quantos carros novos saem (das lojas) por dia nas ruas soteropolitanas? Qual o investimento que a prefeitura fez ou faz para a educação ambiental? Enquanto não tivermos respostas positivas para estas questões não teremos paz em Gotham City. Enquanto o governo pensar somente em um sambinha, futebol e carnaval, todos continuarão dormindo em Gotham City.
Pensando nas duas opções que tivemos no segundo turno da última eleição, o Neto e o Pelegrino, não consigo visualizar boas figuras em ambos. Como posso confiar em um sujeito que vai contra as lutas sociais que estão sendo travadas nos últimos anos no cenário nacional? Logo lembro-me que o Neto foi contra as cotas sócio-raciais nas universidades e a favor do novo código florestal. Sendo contra as cotas, compro a sua imagem como defensor das eternas elites nacionais, e a favor do novo código florestal, vejo sua imagem como um cidadão a favor de todo o desenvolvimento industrial desenfreado que tanto me tira o sono. Sem falar na vertente política neo-liberalista e toda esta conversa fiada de capital financeiro livre. Analisando assim, pareço até ser a favor do outro candidato: Friso que não sou. Nelson Pelegrino pode até ter tido uma boa história política ou ter boas intenções. Mas o que vale é a imagem do momento e não só o passado. Eis uma figura que se mostrou tão insegura nos debates e sem conhecimento do que estava acontecendo na cidade, que me fez pensar muito nas eleições de segundo turno. A indecisão se dava pelo seguinte: Será que, com o neo-carlismo, ainda haverá um morcego na porta principal? A insegurança no governo do Neto me fez pensar na possibilidade de votar no petista. Porém entre ambos, anulei-me a esta disputa.
Enquanto as batalhas políticas forem travadas apenas por figuras marcadas dentro do cenário político local e a população não se organizar/manifestar sobre seus direitos, teremos este cenário caótico em Gotham City. Infelizmente ainda há um abismo na porta principal desta cidade. Abismo que separa minorias de tantos milhões. Apenas as vontades das minorias (elite) são levadas em conta. E se os milhões não pensarem na coletividade utópica, rumo à mudança sócio-política soteropolitana, haverá sempre o morcego na porta principal.


Referências:
RISÉRIO, Antônio. Esquecendo eleições. Jornal A Tarde, Salvador, 10 nov. 2012. Disponível em: http://atarde.uol.com.br/materias/1466433. Acesso em 29 jan. 2013.
JOSÉ, Emiliano. Pensando em política. Jornal A Tarde, Salvador, 14 nov. 2012. Disponível em http://atarde.uol.com.br/materias/1467243. Acesso em 29 jan. 2013.
RISÉRIO, Antônio. Lembranças que importam. Jornal A Tarde, Salvador, 15 nov. 2012. Disponível em:
http://atarde.uol.com.br/politica/materias/1467485-artigo-lembrancas-que-importam. Acesso em 29 jan. 2013.
JOSÉ, Emiliano. De demônios e política. Jornal A Tarde, Salvador, 19 nov. 2012. Disponível em http://atarde.uol.com.br/materias/1467886. Acesso em 29 jan. 2013.
CAMISA DE VENUS. Gotham City. Batalhões de Estranhos. RGE, Salvador, 1985. LP.
 

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