segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Submarino – Imersão e Emersão nas marés do comércio eletrônico





   

Na sociedade informacional visualizada por Castells (1999), global e em rede, vemos o surgimento de uma nova forma de economia e novas formas organizacionais para atuarem de acordo com as demandas deste novo formato. Esta mudança na economia é possível graças aos avanços tecnológicos, à flexibilidade no mundo do trabalho, aos novos fluxos de capitais. E aqueles que puderam perceber estas novas tendências, saíram na frente e conquistaram uma grande vantagem no mercado, ainda que apenas isso não fosse suficiente para garantir seu sucesso. Este é o caso do objeto de nosso estudo: a empresa SUBMARINO.
Esta é uma das empresas pioneiras no comércio eletrônico varejista nacional e, desde então, vem aumentando seu alcance com parcerias com outras empresas, relações que viabilizaram o aumento da sua produtividade e de seu domínio neste tipo de comércio. Segundo o presidente da empresa “O objetivo do Submarino é melhorar sua posição de liderança no varejo eletrônico no Brasil” e para isto uma das suas metas é atrair e manter os clientes através do bom atendimento. Outra meta são as parcerias e fusões com outras empresas, o que vem acontecendo nos últimos anos, como a fusão com a sua maior concorrente de mercado até então: a Americanas.com. Porém, estas fusões garantirão benefícios a todos os envolvidos: clientes e parceiros?
A Submarino está inserida no ramo comercial que mais tem aumentado nos últimos anos: o comércio eletrônico. Desde os anos 2000, vemos um aumento da virtualização das relações sociais - através das redes de relacionamento; das relações culturais - através do maior acesso do público à diversidade cultural mundial e aos diversos produtos distribuídos na internet; e das relações econômicas - através deste tipo de comércio. Na sociedade contemporânea, as facilidades obtidas com estas relações estão promovendo mudanças sócio-culturais significantes nas culturas locais. As relações virtuais são vistas hoje como a solução para os problemas urbanos e/ou geográficos, como a violência, a dificuldade de locomoção etc. Observamos o que Boaventura (1998) chama de "fascismo do apartheid social". Segundo ele “trata-se da segregação social dos excluídos através de uma cartografia urbana dividida em zonas selvagens e zonas civilizadas”. “Para se defenderem, (as zonas civilizadas) transformam-se em castelos neofeudais, os enclaves fortificados que caracterizam as novas formas de segregação urbana (cidades privadas, condomínios fechados)” (p.24). Esta segregação social, comum na contemporaneidade, vem aquecendo o comércio eletrônico e causando estas mudanças de relações.
Os desafios e obstáculos enfrentados pelas empresas pioneiras no comércio eletrônico as levam a desenvolver novas estratégias que respondam às necessidades de novas soluções logísticas para gerenciar bem a cadeia de suprimentos destas relações, visando dar um maior suporte ao seu crescimento sustentável. Apesar de focar seu marketing e suas relações nos meios virtuais, assim como nas parcerias com outras empresas para suporte ao atendimento, entrega e/ou devoluções (terceirização), as empresas do comércio eletrônico requerem um investimento em estruturas físicas. Residem aqui os maiores desafios do comércio eletrônico, visto que a tecnologia ainda precisa conviver com o manuseio físico de produtos e pedidos, separação dos mesmos em embalagens individuais, etc.; isto é, de um lado alta tecnologia, rapidez na comunicação, etc. e de outro, competências comuns ao comércio tradicional.
Partindo deste princípio, analisemos novamente o objetivo da empresa, informado pelo seu presidente, se este está sendo cumprido e quais os envolvidos, os prejudicados e os beneficiados.
Um dos pontos levantados nas metas da empresa foi a busca de novas parcerias. A fusão das duas maiores empresas do comércio eletrônico nacional, a Submarino e a Americanas.com, desestruturou o grande fator impulsionador de qualquer setor da economia: a competição. Sem ela, os consumidores saem perdendo. Os benefícios destas ações vão para os acionistas das duas empresas, pela criação de uma mega empresa varejista, afinal ambas as empresas atuam com a mesma linha de produtos e este procedimento os permite eliminar gastos e seguir em outros seguimentos.  Entendemos que na contemporaneidade há outras lógicas que norteiam o mercado, onde muitas vezes a competição pode dar lugar à colaboração com benefício para todos, mas não encontramos indícios de que este seja o caso da fusão em questão. O outro ponto levantado foi à qualidade no atendimento ao cliente. Com a fusão e o aumento nas vendas, para seguir nestas diretrizes, tem que ocorrer um maior investimento na sua infra-estrutura, tanto física quanto virtual.
O caso apresentado por Mello (2006) era um exemplo de sucesso; mas os desdobramentos após as medidas anunciadas naquele momento mostram que o crescimento acelerado trouxe uma queda na satisfação do cliente, sérios prejuízos para o atendimento, visto o grande número de queixas por entregas fora do prazo. Vimos praticamente o colapso do atendimento nas promoções programadas para o Black Friday em 23 de novembro de 2012, o que forçou a empresa a prorrogar as mesmas com o intuito de evitar um dano maior à sua imagem corporativa. 
Essa organização, não conseguiu prever efetivamente o crescimento e a necessidade de ampliação da estrutura física. Sugerimos como estratégia que outras mudanças do porte da fusão devam estar acompanhadas de pesquisas de tendência de compras do consumidor, de tendência das políticas governamentais para o setor, das previsões da economia mundial. É sempre bom ter em mente que a agilidade é uma das qualidades mais procuradas pelos consumidores deste tipo de comércio, mas sem abrir mão de qualidade e preço. Para não afundar nas águas do comércio virtual, a SUBMARINO precisa, estrategicamente, planejar sua carta de navegação milha por milha.


Referências:
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.
SANTOS, Boaventura de Sousa. 1998. “Reinventar a democracia: entre o Pré-Contratualismo e o Pós-Contratualismo. Centro de Estudos Sociais – Coimbra. Portugal.
MELLO, Bruno. Submarino é a bússola da internet comercial no Brasil. Disponível em: http://www.mundodomarketing.com.br/cases/91/submarino-e-a-bussola-da-internet-comercial-no-brasil.html. Acesso em 17 de jan. 2013.

[Francini Ramos, Pablo Portela e Paula Santos]¹


1- Estudantes do 4º semestre do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades com área de concentração em Política e Gestão da Cultura – IHAC–Universidade Federal da Bahia. Texto elaborado para o componente HACB31 - Organizações e Sociedades ministrado pelo Profº Dr. Adalberto Silva Santos.
17 de Janeiro de 2013
 

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