Na sociedade informacional visualizada por Castells (1999),
global e em rede, vemos o surgimento de uma nova forma de economia e novas
formas organizacionais para atuarem de acordo com as demandas deste novo
formato. Esta mudança na economia é possível graças aos avanços tecnológicos, à
flexibilidade no mundo do trabalho, aos novos fluxos de capitais. E aqueles que
puderam perceber estas novas tendências, saíram na frente e conquistaram uma
grande vantagem no mercado, ainda que apenas isso não fosse suficiente para
garantir seu sucesso. Este é o caso do objeto de nosso estudo: a empresa SUBMARINO.
Esta é uma das empresas pioneiras no comércio eletrônico
varejista nacional e, desde então, vem aumentando seu alcance com parcerias com
outras empresas, relações que viabilizaram o aumento da sua produtividade e de
seu domínio neste tipo de comércio. Segundo o presidente da empresa “O objetivo
do Submarino é melhorar sua posição de liderança no varejo eletrônico no
Brasil” e para isto uma das suas metas é atrair e manter os clientes através do
bom atendimento. Outra meta são as parcerias e fusões com outras empresas, o
que vem acontecendo nos últimos anos, como a fusão com a sua maior concorrente
de mercado até então: a Americanas.com. Porém, estas fusões garantirão
benefícios a todos os envolvidos: clientes e parceiros?
A Submarino está inserida no ramo comercial que mais tem
aumentado nos últimos anos: o comércio eletrônico. Desde os anos 2000, vemos um
aumento da virtualização das relações sociais - através das redes de
relacionamento; das relações culturais - através do maior acesso do público à
diversidade cultural mundial e aos diversos produtos distribuídos na internet;
e das relações econômicas - através deste tipo de comércio. Na sociedade
contemporânea, as facilidades obtidas com estas relações estão promovendo
mudanças sócio-culturais significantes nas culturas locais. As relações
virtuais são vistas hoje como a solução para os problemas urbanos e/ou
geográficos, como a violência, a dificuldade de locomoção etc. Observamos o que
Boaventura (1998) chama de "fascismo do apartheid social". Segundo
ele “trata-se da segregação social dos excluídos através de uma cartografia
urbana dividida em zonas selvagens e zonas civilizadas”. “Para se defenderem,
(as zonas civilizadas) transformam-se em castelos neofeudais, os enclaves
fortificados que caracterizam as novas formas de segregação urbana (cidades
privadas, condomínios fechados)” (p.24). Esta segregação social, comum na
contemporaneidade, vem aquecendo o comércio eletrônico e causando estas
mudanças de relações.
Os desafios e obstáculos enfrentados pelas empresas pioneiras
no comércio eletrônico as levam a desenvolver novas estratégias que respondam
às necessidades de novas soluções logísticas para gerenciar bem a cadeia de
suprimentos destas relações, visando dar um maior suporte ao seu crescimento
sustentável. Apesar de focar seu marketing e suas relações nos meios virtuais,
assim como nas parcerias com outras empresas para suporte ao atendimento,
entrega e/ou devoluções (terceirização), as empresas do comércio eletrônico
requerem um investimento em estruturas físicas. Residem aqui os maiores
desafios do comércio eletrônico, visto que a tecnologia ainda precisa conviver
com o manuseio físico de produtos e pedidos, separação dos mesmos em embalagens
individuais, etc.; isto é, de um lado alta tecnologia, rapidez na comunicação,
etc. e de outro, competências comuns ao comércio tradicional.
Partindo deste princípio, analisemos novamente o objetivo da
empresa, informado pelo seu presidente, se este está sendo cumprido e quais os
envolvidos, os prejudicados e os beneficiados.
Um dos pontos levantados nas metas da empresa foi a busca de
novas parcerias. A fusão das duas maiores empresas do comércio eletrônico
nacional, a Submarino e a Americanas.com, desestruturou o grande fator
impulsionador de qualquer setor da economia: a competição. Sem ela, os
consumidores saem perdendo. Os benefícios destas ações vão para os acionistas
das duas empresas, pela criação de uma mega empresa varejista, afinal ambas as
empresas atuam com a mesma linha de produtos e este procedimento os permite
eliminar gastos e seguir em outros seguimentos.
Entendemos que na contemporaneidade há outras lógicas que norteiam o
mercado, onde muitas vezes a competição pode dar lugar à colaboração com
benefício para todos, mas não encontramos indícios de que este seja o caso da
fusão em questão. O outro ponto levantado foi à qualidade no atendimento ao
cliente. Com a fusão e o aumento nas vendas, para seguir nestas diretrizes, tem
que ocorrer um maior investimento na sua infra-estrutura, tanto física quanto
virtual.
O caso apresentado por Mello (2006) era um exemplo de
sucesso; mas os desdobramentos após as medidas anunciadas naquele momento
mostram que o crescimento acelerado trouxe uma queda na satisfação do cliente,
sérios prejuízos para o atendimento, visto o grande número de queixas por
entregas fora do prazo. Vimos praticamente o colapso do atendimento nas
promoções programadas para o Black Friday em 23 de novembro de 2012, o que
forçou a empresa a prorrogar as mesmas com o intuito de evitar um dano maior à
sua imagem corporativa.
Essa organização, não conseguiu prever efetivamente o
crescimento e a necessidade de ampliação da estrutura física. Sugerimos como
estratégia que outras mudanças do porte da fusão devam estar acompanhadas de
pesquisas de tendência de compras do consumidor, de tendência das políticas
governamentais para o setor, das previsões da economia mundial. É sempre bom
ter em mente que a agilidade é uma das qualidades mais procuradas pelos
consumidores deste tipo de comércio, mas sem abrir mão de qualidade e preço.
Para não afundar nas águas do comércio virtual, a SUBMARINO precisa,
estrategicamente, planejar sua carta de navegação milha por milha.
Referências:
CASTELLS, Manuel. A
sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.
SANTOS, Boaventura de Sousa. 1998. “Reinventar a democracia:
entre o Pré-Contratualismo e o Pós-Contratualismo. Centro de Estudos Sociais –
Coimbra. Portugal.
MELLO, Bruno. Submarino é a bússola da internet
comercial no Brasil. Disponível em: http://www.mundodomarketing.com.br/cases/91/submarino-e-a-bussola-da-internet-comercial-no-brasil.html.
Acesso em 17 de jan. 2013.
[Francini
Ramos, Pablo Portela e Paula Santos]¹
17 de Janeiro de
2013
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