sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A POLÍTICA COMO VANTAGEM – MARCO AURÉLIO NOGUEIRA

Vídeo disponível no link http://www.cpflcultura.com.br/site/2009/11/30/integra-a-politica-como-vantagem-marco-aurelio-nogueira/




                     A POLÍTICA COMO VANTAGEM – MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
                                              
                                                     COMENTÁRIOS E ANÁLISE

A diferença entre tirar vantagem e obter vantagem está na origem desta e o resultado que ela ocasiona. Mesmo que obter vantagem parece ser uma expressão menos “pesada”, a pessoa se coloca em posição de superioridade perante a outra, obtendo assim algum tipo de benefício. Estando assim pode se valer da vantagem para prejudicar os outros ou se mostrar diferente dos outros. Falando em vantagem, entramos em um território em que podermos ter um lado lícito ou um lado ilícito. De alguma maneira a corrupção é uma ação de tirar vantagem que se vale para obter benefícios. A palavra vantagem é escorregadia por poder assumir significados que negam ou contradizem uma proposição que visa pensar em política como vantagem no sentido positivo. Tudo isto significa que podemos pensar na política de duas maneiras:
1.      A primeira, que parece ser o ponto de vista dominante, aquele no qual a gente se remete quando normalmente falamos sobre política – é o qual associamos a política ao poder como um conjunto de ações e de atos dedicados a organizar o acesso ao poder ou organizar o próprio poder. É um pensamento usado para usufruir da política para conquista do poder ou seu manuseio, sendo assim a política “uma grande vantagem”. Resume-se assim, o objetivo dos políticos nas campanhas eleitorais, a conquista de votos.
2.      O outro sentido que, de certa maneira, é mais dissimulado, mais oculto, que pulsa de maneira nem sempre perceptível das pessoas, associa política À construção da convivência. Este modo é o que os cientistas políticos chamam de modo clássico de se pensar a política. Clássico por ter sido apresentado há muitos séculos na Grécia pelos filósofos das escolas platônicas ou aristotélicas. A política, mesmo quando passa a ser usada ao benefício, ao poder, é um conjunto de atividades voltado para a organização da convivência entre as pessoas.
Política como poder x Política como construção da convivência coletiva.
Paralelo a este embate, podemos fazer uma análise sobre os protagonistas da política que são as pessoas que estão envolvidas neste trabalho. Podemos, para fazer isto, dividir os protagonistas em quatro: o cidadão, os políticos, os governantes e os técnicos e funcionários. São quatro grupos que forma a política, mas cada um com um conjunto de expectativas e de metas diferentes. O que os cidadãos esperam da política? E os demais grupos? Os cidadãos desejam obter felicidade, ou seja, condições para viver as suas vidas (justiça, seguranças, etc). Os políticos não esperam isso podendo até agir para produzir estas condições. Porém, sua grande expectativa é a obtenção de prestígio, fama ou votos, do mesmo modo que os governantes. Vêem, na política, uma forma de aclamação ou obtenção de prestígio. Os servidores, da mesma maneira esperam obter este reconhecimento com suas ações querendo que a sua proposta seja reconhecida tanto pelos usuários do serviço público quanto pelos seus colegas de trabalho. Então, as expectativas de todos os protagonistas, produzem diferentes visões do que a política pode oferecer de vantajoso para estas pessoas.
Sem levar em conta todas estas questões, nós não podemos resolver se a política de fato é uma vantagem para comunidade ou um problema. Talvez a resposta esteja no meio, sendo a política, tanto um problema quanto uma solução ou vantagem para a comunidade humana. Se pensarmos na política pelo modelo clássico, todos são políticos. Ou, sendo mais rigoroso, todos deveriam ser políticos. Todos deveriam se dedicar a essa arte atuando para melhorar os recursos para agir politicamente, neste sentido. Como um protagonista deste macro e permanente esforço de construção da convivência entre pessoas que pensam diferentes. Olhando deste ponto de vista no qual todos são políticos, não é verdade, porém que todos são políticos o tempo todo porque os humanos são, inevitavelmente, levados a praticar atos que não são políticos. A exemplo: a praticar atos criminosos ou ações desviantes que levam à destruição de laços – ações predatórias, etc. Estas ações predatórias não devem ser consideradas políticas e muitas vezes as pessoas agem assim sem intenção, sem saber, quase por um espasmo ou cólica. S]ao ações que podem abarcar uma zona, que é a zona da insensatez. Muitas vezes estas ações são praticadas para a obtenção de vantagem pessoal em relação aos demais.
Nas comunidades em crise ou que passam momentos de turbulência por questões sociais, cada vez mais as ações políticas são substituídos por atos predatórios – aumento da criminalidade, caos, desordem, etc. São ações que são originadas pelo ambiente, que faz com que o ser veja o outro como inimigo, sendo forçado a conviver com o outro sem que se gostem, se respeitem etc. – eminentemente um sacrifício. Porém este discurso é muito bonito de se ver, mas muito difícil de se viver.
Saindo desta visão da política como construção da convivência e indo para a visão da política como poder, as coisas se complicam. A natureza do poder é a do acúmulo constante de poder, ou seja, é ilimitado. Se o poder é uma constante, devemos encontrar na comunidade, formas de fazer com que ela atue, haja e se organize, para combater o poder, ou no mínimo, um modo a controlá-lo, a limitá-lo ou humanizá-lo. Isto significa introduzir mecanismos na vida das pessoas que cheguem a contagiar aqueles que ocupam os cargos de poder. “Se há algo que defina o poder é a busca constante de mais poder” Tomas Hobbes.
O grande problema das sociedades se concentra na busca pelo poder, no controle do poder por poucos, etc., sobretudo, levando em consideração que há uma espécie de mola no poder, que é a mola da acumulação permanente. Como fazer para desarmar esta mola? Evitar que ela se manifeste o tempo todo incomodando e fazendo dos poderosos uma casta distinta dos outros e contra os outros. Quais são aqueles elementos que são inerentes a política e que podem ser maximizados e/ou reforçados, para impulsionar a política na direção correta? O diálogo, a argumentação e o convencimento (que o Marco Aurélio Nogueira define como os três pilares do seu triângulo de soluções). Reforçando estes três elementos temos condições de postular a política como vantagem e dizer que, se nós conseguirmos estabilizar a nossa coexistência - sobretudo nas relações que envolvem poder, diferença e luta pela afirmação de interesses – estes elementos formam uma comunidade que não opera em um jogo em que alguém tem que perder. Podemos trabalhar esta questão ao analisar o processo eleitoral como uma construção de idéias que objetivam a melhoria da sociedade como um todo e não da forma atual em que um ganhe e o outro perca, sendo visto como um derrotado ou humilhado. Assim todos ganham pois o diálogo do processo foi construtivo até para os que não se elegeram. Se um debate entre o que vai ganhar e o que vai perder for marcado pela urbanidade, pela busca do esclarecimento recíproco, reforçará assim esta idéia.
Sendo assim, a existência de um diálogo pode fazer com que a diferença seja preservada, eventualmente, valorizada, sem que se desdobre em aumento da desigualdade. A defesa da individualidade e a defesa da diferenciação – o grande desafio é continuar com esta diferenciação, reduzindo a desigualdade. 

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